Por: Renan Schuller e Vanessa Laura Franz
No dia 11 de agosto de 2018, o principal objetivo da nossa viagem ao Peru, a tão sonhada travessia da Cordilheira de Huayhuash se iniciou. Um longo percurso de trekking contornando uma cordilheiras de montanhas impressionantes que são cenários de filmes e ousadas expedições de alta montanha.
O LUGAR
Quando falamos em Peru, a grande maioria pensa em Machu Picchu, trilha inca. Não! Nós montanhistas queremos mesmo é ir para Huaraz, templo do montanhismo peruano e se aventurar nas belas e “pouco conhecidas” montanhas desta região ao norte do Peru. Ficando assim, distantes da grande massa de turistas que buscam as ruínas incas e mais perto de verdadeiros guias de montanha, trekkers e montanhistas de todo o mundo, e sem dúvida, viver um dos mais belos trekkings dos PLANETA!
Este é o local para uma viagem genuína, marcante e inesquecível. Certeza de uma grande aventura na meca do montanhismo de altitude da América latina!

Estamos falando de Huayhuash, que é considerado um dos mais belos trekkings do mundo. Esta cordilheira tem a maior concentração de montanhas nevadas acima de 5.400m. de altitude. São vários picos nevados muito próximos um do outro, isso é sensacional! Está localizada na região norte dos Andes Peruanos, cerca de 50 km ao sul da Cordilheira Branca e 200 km ao norte de Lima. Não é uma cordilheira muito extensa. De leste a oeste tem cerca de 25/30 km e de norte a sul cerca de 15/20 km, mas, que dentro abriga uma série de montanhas e lagoas espetaculares. Sua altura máxima está no nevado Yerupajá, que com seus 6.617m, é a segunda montanha mais alta do Peru, o primeiro é Huascarán com 6.768m e está próximo da Cordilheira Branca.
A Cordilheira Huayhuash está entre três regiões (estados): Lima, Huanuco e Ancash. Neste último distrito está Huaraz, cidade que respira montanhismo, geralmente é o ponto de partida, cidade base escolhida pelos montanhistas.
Da capital Lima à Huaraz são pouco mais de 400 km de viajem, cerca de 9 horas de ônibus ou 1 hora de avião.
O TRAJETO
O “Circuito Clássico”, do Huayhuash Mountain Trekking, faz uma rota circular em torno da cordilheira (geralmente no sentido horário), iniciando no acampamento Cuartelhuain e terminando após 130km, no pueblo de Llamac.

Nesta travessia os maiores desafios são os passos ( local de transposição de uma montanha, com subidas ingrimes ), porém, os mirantes com vista para lagunas e os nevados nos faziam esquecer do cansaço e querer caminhar mais e mais para conhecer cada mirante desta magnifica região. Além dos guias locais contávamos com a importante ajuda dos arrieiros, que levavam em mulas todo o equipamento de camping e alimentação. Também havia um cozinheiro para o grupo que preparava todas as refeições do dia. Só tínhamos que nos preocupar em caminhar e aproveitar o máximo nossa estadia na cordilheira das altas montanhas.
Confira abaixo o tracklog dos 9 dias de caminhada que gravamos em Huayhuash:
Esse incrível circuito é cenário de aventuras fascinantes e ousadas no Peru. Pouco explorada por brasileiros, um lugar de luta por terras, num passado não tão distante já foi abrigo de guerrilheiros do Sendero Luminoso. Hoje, o maior problema que afeta o meio ambiente na cordilheira dos andes, é o efeito estufa, geleiras derretem em ritmo acelerado. O local também corre o risco de ser devastado pela extração de minérios levado por mineradoras estrangeiras. Isso preocupa a população local pois dependem da água das geleiras para seu sustento e os trekkers que vem em busca de aventuras nas montanhas nevadas.
Preparação
Como forma de preparação fizemos várias caminhadas na serra catarinense e antes de iniciar a travessia no Peru, fizemos 2 hikings de aclimatação que foram muito importantes para nos acostumarmos com o clima local que é bastante diferente do nosso. A altitude faz com que o cansaço apareça rapidamente com apenas alguns passos. Porém com uma aclimatação correta o nosso corpo se adapta rapidamente. O circuito está em uma altitude média de 4.065m até 5.370m. Leia nosso relato sobre Hikings de aclimatação em Huaraz
Escute a playlist Peruvian Pan Flutes e entre em “clima andino” durante sua leitura!
DIA 1 – Chegando ao inicio do trekking – Llamac
Sábado, 11 de agosto de 2018.
Huaraz -> Chiquián 3400m -> Llamac 3250 -> Cuartelhuain 4100m
De Huaraz (3090 m.), nos reunimos ao grupo e guias e seguimos de ônibus por 110km pela estrada 3, sentido sul, até chegar a Chiquián (3400 m.) onde o asfalto termina. Fizemos uma parada neste bonito “pueblo”.

Em Chiquián, paramos para almoçar. Nossa aventura já começa por aí, uma cidadezinha com ruas estreitas de interior entre as montanhas. Esse local é conhecido pelos moradores como ”espejito del cielo” (espelho do céu).
No almoço conhecemos melhor os integrantes do grupo. Cada um pediu seu prato e minutos depois chegou uma sopa (entrada) para cada um. Já havíamos nos fartado com a sopa que estava uma delícia, quando ainda chegou o prato principal que era composto de arroz, feijão, salada e truta e para beber um suco de maracujá.

Ouvimos barulho na rua, como se fosse uma festa. Perguntamos à garçonete se era feriado e ela nos disse que era um defunto! Ou seja um velório. Nos “Pueblos” da serra é comum fazer festa, sair nas ruas carregando o caixão prestando as últimas homenagens através de músicas, utilizando instrumentos musicais, dando o ultimo adeus a uma pessoa querida.
Após o almoço, embarcamos no ônibus e seguimos por mais 65km de estrada de chão, descendo e subindo ingrimes vales até o primeiro acampamento Cuartelwain a 4.100m, ponto inicio do trekking.

No total foram 6 horas de viajem de ônibus até ai, iriamos caminhar somente no próximo dia.
Ficamos encantados com a vista deste verde vale e dos primeiros picos nevados, o Rondoy e o Ninachanca.

Chegando lá, a equipe já começou a montar os equipamentos e preparar o jantar. Encontramos mochileiros franceses que estavam solo e vieram caminhando 25km desde Llamac.

Enquanto os guias montavam acampamento, eu e Renan, caminhamos pelos arredores para apreciar a bela vista e escolher um local para montar nossa barraca pela primeira vez em Huayhuash.
Próximo do ponto de acampamento, havia currais e casinhas de pedra com telhado de palha, onde alguns campesinos passam a noite e algumas ovelhas pastam tranquilamente.

Encontramos uma campesina que estava voltando para sua casa. Paramos para conversar e ela nos contou como era sua vida nesse local. É como se voltássemos no tempo, num lugar distante da civilização. É necessário viajar mais de 60 km de estradas de chão com muitas curvas, para chegar na cidade mais próxima e ter acesso a alguma infra-estrutura básica. As estradas só chegam até lá hoje, por conta da intensa ação das mineradoras estrangeiras, que dali extraem ouro e prata. Os guias contam, que antigamente esta travessia era feita iniciando em Chiquian, com mais de 200km e quase 1 mês de expedição!

O nosso guia e cozinheiro Pancho já nos impressionou com sua primeira ”cena” (jantar). A entrada: uma sopa e como o prato principal: Arroz, com batatas, frango e legumes. Luxo da montanha! E de ”postre” (sobremesa) deliciosas frutinhas da região (todo dia era um cardápio diferente, um mais gostoso que o outro).

Depois do jantar, fomos avisados pelo guia que nossa primeira caminhada seria intensa com 2 passos de montanha. O horário para iniciar era “bien temprano” às 5am, então precisávamos estar bem descansados.
DIA 2 – Passo Cacanapunta e a impressionante vista da laguna Carhuacocha
Domingo, 12 de agosto de 2018.
Cuartelhuain 4100 m. -> Paso Cacananpunta 4700 m. -> Punta Carhuac 4650 m. -> Camp Laguna Carhuacocha 4100m. 16km, em torno 7 a 8 horas de caminhada
Ás 5 da madrugada fazia frio e ventava, fomos acordados pelo guia com o tradicional mate de coca matinal, que além de hidratar te ajuda com os efeitos da altitude. Logo após guardarmos os equipamentos, os guias já estavam nos esperando com o “desayuno” (café da manhã) servido.
Saímos do acampamento às 6am. Começamos a caminhada adentrando rumo ao passo da montanha. A inclinação se tornou mais intensa até que após 4km e 600m de subida, alcançamos o primeiro ponto alto do dia, o passo Cacananpunta (4690m).
Estávamos ofegantes, mas felizes de nosso bom desempenho. Todos os integrantes do grupo tinham uma boa resistência. Percebemos que nossa aclimatação estava ótima e já estávamos caminhando quase sem sentir os efeitos de altitude.

O vento se fez presente e o céu estava incrivelmente azul. Descemos pelo outro lado do passo e continuamos pelo vale plano. Caminhar por aqueles descampados nos trouxe memórias do “Campo dos Padres”. E durante o caminho, compartilhamos nossas aventuras na serra catarinense com os novos amigos e seguimos em direção ao acampamento Janca (4240m).
Continuamos por um suave aclive ao sul de Janca e alcançamos a passagem de Carhuac (4.640m) de onde se inicia um leve e longo declive até a Laguna Carhuacocha.
Descemos até chegar na melhor vista para a Laguna Carhuacocha e já estávamos quase no acampamento mais belo do circuito.
Como pano de fundo da Laguna Carhuacocha, estão os imponentes nevados Carnicero (5.960m), Siula Grande (6.344m) e Jirishanca (6.124m). Essas montanhas são consideradas , as mais difíceis de se conquistar nos andes. Há também outros nevados menores como o Siula Chico e Jirishanca Chico. No final da tarde, podíamos ouvir diversas vezes os estrondos vindo das montanhas, provenientes de avalanches.

Chegamos impressionados com a vista desse primeiro dia de caminhada, ”se o primeiro é assim como seriam os próximos?”A emoção tomou conta nesse momento. A vontade foi de pular e dançar de tanta felicidade! Sentimento de muita gratidão à “Pachamama” (mãe terra).

Acampamos com vista para montanhas, ícones de Huayhuash, em destaque para os imponentes Jirishanca e Siula Grande que são cenário de uma incrível história real de escalada, narrada em filme e livro “Touching the Void” pelos alpinistas americanos Joe Simpson e Simon Yates.
Após um bom jantar fomos descansar, curtindo os últimos raios de sol por detrás da cordilheira!
DIA 3 – Mirador 3 lagunas e o Passo Siula
Segunda, 13 de agosto de 2018.
Laguna de Carhuacocha 4100 m. -> Passo de Siula 4850 m. -> Acampamento Huayhuash 4350 m. Caminhada de 7 a 8 Horas.
No terceiro dia, acordamos cedo novamente e saboreamos o tradicional café da manhã que desta vez foi fora da ” carpa comedouro”(barraca de alimentação) admirando a bela paisagem. O visual era tão mágico que não tínhamos vontade de sair dali. Porém, os guias nos apressaram e as 6am já estávamos caminhando pela grossa geada que a madrugada fria deixou.

Foi lindo ver o sol saindo durante o caminho, derretendo todo o gelo que se formou a noite. E junto ao grupo, seguimos contornando pelo outro lado da Laguna e entramos no Vale Gangrajanca, literalmente no sopé destas montanhas.

A subida se dá por uma encosta ingrime até o mirador das 3 lagunas e segue até Passo Siulá (4820m). Fizemos um ataque ao mirante laguna Siulacocha antes de começar na subida forte.

Chegamos a um dos mirantes mais belos do trajeto, onde se avista do alto as 3 lagunas pelas quais passamos. São elas: Gangrajanca, Siula e Quesillococha e os nevados da cordilheira: Jirishanca Chico, Jirishanca Grande, Yerupajá Chico, Touro, Yerupajá Grande, Siulá e Carnicero. Simplesmente espetacular o visual nesta parte do caminho, Huayhuash e toda a sua grandiosidade de montanhas e lagunas de tirar o folêgo!

Contam os guias que acontecem muitas mortes de escaladores e aventureiros que tentam os cumes destes nevados. Diversas vezes no caminho passamos por cruzes que ficam de memória aos que ali padeceram.

Avistamos as montanhas cobertas de neve como o cerro Trapézio, Puscanturpas, Millpo e a Cordilheira Raura e Condores planando no alto das montanhas.

Chegamos ao Passo Siula ao meio dia, com sentimento de gratidão e dever cumprido. Sabíamos que após cruzar o passo, deixaríamos toda a bela paisagem para traz. Então sentamos e ficamos admirando tudo lá do alto, antes de descer e procurar um lugar para o “Almuerzo”.

Após o almoço seguimos descendo pelo vale e antes das 15h já estávamos no acampamento Huayhuash (4351m).

Foram cerca de 900m de aclive nesse dia, mas que não foram suficientes para nos cansar, pois resolvemos sair para subir um mirante 300m acima do acampamento.

Nos sentíamos plenamente adaptados a altitude e não foi difícil chega ao mirante. Na chegada, começou a nevar. E podíamos visualizar que no acampamento estava chovendo. O final de tarde foi chegando e começamos a descer.

Chegamos exatamente na hora que foi servido o jantar!

DIA 4 – Relaxando nas montanhas e águas termais
Terça, 14 de agosto de 2018.
Huayhuash camp 4350 m. -> Paso de Portachuelo de Huayhuash 4750 m. -> Laguna Viconga 4400 m. -> banos termales (Caminhada de 5 horas)
A noite esfriou, acordamos por volta das 4am e o termômetro do gps marcava -7c° no avanço da barraca. Na noite anterior houve chuva e neve. Logo depois entrou uma frente fria que baixou a temperatura e fez tudo congelar, amanhecemos com a barraca assim:

Tudo estava congelado e duro, inclusive os nossos dedos. Foi difícil desmontar a barraca por conta do gelo que havia grudado. Mas mesmo assim guardamos tudo e seguimos caminhando logo cedo.

Como fizemos todos os dias pela manhã, o chá matinal, e o delicio café da manhã servido dentro da grande barraca laranja, o cardápio de ”desayuno” era panquecas feitas pelo nosso querido cozinheiro Ambrósio! Como dizíamos lá, isso na montanha é um luxo!

O dia prometia uma caminhada mais curta e sem nenhuma subida forte. O destino era os banhos termais, um local para tomar um delicioso banho quente e relaxar a tarde toda! Que ótimo, estávamos precisando!

No caminho passamos por uma grande represa, que estava com o nível de água baixo por conta da vazão grande que formou belas cascatas riacho abaixo.

Descemos por encostas suaves, próximo de uma linda e grande cascata. Seguimos até o acampamento Huayhuash à 4.370m, conhecido pelos banhos termais, no Vale de Huanacpatay. Chegando lá tivemos um merecido banho relaxante nas piscinas naturais de água ‘’demasiado caliente’’. Era só o que queríamos após 4 dias sem banho!

São 3 tanques de águas bem quentes de aproximadamente 40°C. A primeira é menor e é usado para se lavar com sabonete e shampoo, antes de usar as outras 2 piscinas maiores para relaxar.

Como o restante do dia era de folga, a ótima noticia era que tinha um campesino que vendia cervejas no local. Aproveitamos a tarde para relaxar e curtir a paisagem deste acampamento.

No interior do Peru não espere encontrar facilmente cervejas ( ou qualquer bebida ) geladas. Mesmo na cidade em dias quentes, os locais estão acostumados a beber cerveja em temperatura ambiente, algo muito difícil para nós brasileiros que apreciamos uma cerveja bem gelada! Resolvemos isso colocando as garrafas na água gelada do riacho que corria próximo ao acampamento!

Apreciamos as cervejas num picnic em frente a cascata e subimos num mirante para tirar algumas fotos das montanhas dali. No final de tarde acompanhamos os campesinos que todos os dias vazam toda a água quente das piscinas e a escovam, para deixarem pronta e limpa para os próximos trekkers no outro dia.

Todo passo conquistado era comemorado! Um casal de Lima que estava no nosso grupo, muito queridos, Fernando e Angela, eram dançarinos de música Folclorica da Bolivia ”Caporales”, que divide a tradição com os países vizinho como o Peru. Cada passo era dançado com muita alegria!
DIA 5 – Os desafios do Passo Cuyoc e o passo Santo Antônio
Quarta,15 de agosto de 2018.
Huayhuash Camp. -> Paso de Cuyoc 5000m -> acampamento Guanacpatay 4300 m -> ataque passo santo antônio
Antes de subir a Laguna Viconga, viramos a esquerda (N), em direção ao Passo Cuyoc, onde chegaríamos pela primeira vez na altitude acima de 5000m.

Este dia houve novamente subidas ingrimes e longas. Porém como sempre saímos cedo, tínhamos bastante tempo para caminhar podendo parar para descansar apreciando a vista no caminho.

Lá conseguimos avistar ao Sul da Cordilheira Huayhuash. O passo fica bem ao lado de um nevado e é possível até tocar a neve.

Começamos a descer pelo o outro lado da montanha, num caminho bastante ingrime com muitas pedras soltas, que tornavam a trilha muito escorregadia.

Estávamos agora na face oeste de Huayhuash, e chegamos ao nosso 5° acampamento “Elephant (4430m)” ainda antes do meio dia, já com vontade de subir algum mirante!

Almoçamos um delicioso cheviche de cogumelos do nosso cheff Pancho. Combinamos com o guia o ataque que iriamos fazer, até o mirante Santo Antonio, a 5.000m de altitude. Descansamos um pouco após o almoço e nos preparamos para a subida.
Às 13h começamos a subir o passo Sto Antonio, a inclinação é bem íngrime e exigia passadas lentas. O sol forte e o ar demasiado seco nos faziam cansar ainda mais. Não foi fácil, mas chegamos lá, a 5.050m mais uma vez!

Ficamos maravilhados com a paisagem imponente e dali avistamos o local usado como acampamento base por Joe Simpson e Simon Yates em sua escalada ao Siula Grande, contado no filme “Touching the Void”. É incrível a força e a coragem destes homens, enfrentar o desafio de chegar no cume. As distancias são surreais para se fazerem nas condições que Simon fez. Realmente inacreditável.

A visão de 360° é uma variedade de cumes nevados, da mesma cordilheira, que se destacam com os nomes quéchuas – Pumarinri, Cuyoc Central, Puscanturpa, Nevado Cuyoc, Trapecio, Quesillo, Huaraca, Jurau, Carnicero, Sarapo, Siulá, Yerupajá grande, Rasac, Seria, Huacrish, Angoscancha, Diablo Mudo, Juitushhuarco, Cerros Rosario ou Caramarca e as colinas Juraurajus, San Antonio, Madalena e o resto da Cordilheira Raura.
Vista 360° do alto do passo san antônio
Valeu a pena cada passo, pois a vista compensou todo o esforço. Um dos dias mais incríveis da viagem!
Após cerca de 1 hora apreciando a energia dessas montanhas, iniciamos a ingrime descida de volta ao acampamento “Elephant”. Valeu a pena o desafio!
Chegando ao acampamento curtimos o final de tarde com o friozinho que chegava junto do pôr do sol. Aproveitamos o riacho ao lado para encontrar um pequeno furo em nosso isolante inflável e remendá-lo. Por sorte conseguimos concertar e assim usamos no restante da trip.

Extasiados após a descida do passo San Antônio, gravamos este video:
E assim termina mais um dia na montanha, com a “Cena” ( Jantar) entre amigos!

DIA 6 – Caminho ao pueblo de Huayllapa e as histórias macabras de huayhuash
Quinta, 16 de agosto de 2018.
Guanacpatay 4300 m. -> Huayllapa 3500 m. -> Huatiac 4300 m
Nesse dia, saímos do acampamento ás 8 horas, de uma altitude de 4.300m e seguimos baixando ao longo do Vale de Guanacpatay até 3.500m.

Após este longo trecho quase plano, chegamos em um mirante que dava para um vale de montanhas ingrimes e a partir dai então iniciamos uma longa descida.

Durante a descida fizemos fotos nas quedas d’água e paramos ao meio dia para um almoço na trilha.

Acima dos 4.000m a temperatura era agradável, mas conforme fomos baixando a temperatura foi subindo, insetos começam a aparecer e a sensação de calor, debaixo do sol forte junto do clima seco castigaram. Era ótimo se refrescar nas águas destas cascatas.

Já quase chegando a Huayllapa, paramos no posto para pagar a taxa de acesso, cobrada pela comunidade campesina. A mais cara de toda a travessia, 40 soles por pessoa.

O acampamento desse dia era em um campo de futebol, ao lado de uma escola, por conta do relevo acidentado, lugares planos por ali eram raros. Tiveram que dividir a quadra da escola ao meio para receber os trekkers. Montamos nossa barraca e descansamos antes de sair para fazer um reconhecimento neste “pueblo”.
Fomos acordamos pela garotada local, fazendo algazarra do lado de fora! haha
Huayllapa localiza-se em meio às montanhas na pequena e pacata comunidade campesina. Um local com uma realidade um pouco triste. Ruas estreitas, com lixo por toda a cidade. Crianças e idosos em condições precárias e falta de higiene. O que nos chamou mais a atenção, foram as casas todas com cadeados reforçados. As pessoas ali não eram muito receptivas, sempre te olhando de forma estranha. Descobrimos que o local era cenário de histórias tristes de mortes e assaltos em um passado não muito distante.
“Contaram-nos que dali partiu um casal de trekkers para subir a montanha, no mesmo caminho que faríamos no dia seguinte. O rapaz antes de subir a trilha parou em um bar para comprar mantimentos, onde estavam 2 bêbados, que viram que o rapaz tinha dinheiro e ao final da tarde foram subir a trilha e procurar onde o casal tinha acampado. Encontraram a barraca e assassinaram os dois, para roubar seus pertences e esconderam os corpos. Mal sabiam que o pai do rapaz era militar do exercito americano e durante 3 meses procuraram os corpos sem sucesso, até que o pai cansado da busca, chegou no pueblo de Huayllapa e ameaçou explodir as montanhas ao redor com dinamite e soterrar o pueblo caso os corpos não aparecerem. No dia seguinte resgataram os restos mortais do casal e prenderam o assassino…” Confesso que no dia ficamos intimidados com a história.
Durante o dia, crianças vendiam aos turistas ingressos para o “cinema” a 1 sol, que iria rolar no final do dia no colégio. Conforme fomos conhecendo melhor as pessoas fomos nos sentindo mais a vontade no local! Aproveitamos que tinha ”venda” para comprar cerveja, alguns isotônicos e doces para levar na caminhada do próximo dia. Caminhar por aquelas ruas estreitas à noite nos fazia sentir em um cenário do jogo Resident Evil e a qualquer momento poderia sair um zumbi de algum beco!
DIA 7 – Fortes subidas ao passo Punta Tapush
Sexta, 17 de agosto de 2018.
Huayllapa 3.500m - Punta Tapush 4800m. - Gashpapampa 4600m. - acampamento Anguscancha 4500m. (Caminhada de 5 a 6 horas).
Seguimos em direção ao norte, passando pelo Rio Milo e sempre subindo desde o pueblo de Huayllapa.

No caminho, após 800m de aclive, avistamos a maravilhosa face Sul do Nevado Diablo Mudo, o qual estávamos planejando subir. Durante o caminho avistamos as cruzes do local onde a “pareja” ( casal ) foram mortos.

Nesse dia chegamos ao sexto passo Tapush (4800m). Descemos pelo outro declive e depois de passar o acampamento de Gashapampa (4550m) continuamos pelo vale à direita e chegamos ao acampamento Anguscancha. (4470m).

Durante o caminho, convencemos o guia de subir o nevado Diablo Mudo, a vontade de subir uma alta montanha era um sonho antigo nosso, visto que estávamos caminhando super bem durante a travessia e queríamos um pouco mais de aventura!

Porém para subir este nevado recomendam o uso de crampons, botas duplas, piolet e todo o equipo de neve, coisa que não tínhamos, e naquele momento era impossível alugar ou conseguir com alguém. O nosso guia que conhece muito bem Huayhuash conhecia uma rota, que se poderia subir sem equipos para neve. Aceitamos o desafio e ficou combinado que sairíamos para este ataque ao cume ás 2h da madrugada.
Foram cerca de 1200m de ascensão até o acampamento. Ás 14h, quando chegamos, fazia muito calor e tinha muitas “butucas” no acampamento. Assim que montamos a barraca entramos um pouco para descansar, mas era difícil ficar debaixo do sol quente. Ficamos “lezados” pelo calor.
Por volta das 16h o tempo virou, escutávamos trovoadas fortes chegando e uma nevasca começou a cair. Tudo ficou branco em questão de minutos.
Tínhamos de sacolejar a barraca, para tirar a camada grossa de neve que se acumulava e pesava sobre a mesma. Saímos somente na hora em que os guias nos chamaram para o jantar, todo o chão estava um tapete branco. Foi incrível! Nossa primeira experiência com tempestade de neve em alta montanha, logo no dia que planejávamos a escalar um nevado.

Durante o jantar combinamos os detalhes do ataque à nossa primeira alta montanha com o guia. Do grupo somente 2 pessoas ( Vanessa e Renan ) aceitaram o desafio do Diablo Mudo. Estávamos receosos por conta da tempestade de neve, mas o guia garantiu que não iria atrapalhar o ascenso.

Depois de conversar com os amigos peruanos, logo já fomos dormir, um pouco ansiosos pela aventura que estava por vir!
DIA 8 – Nosso primeiro cume em alta montanha
Sábado, 18 de agosto de 2018. Acampamento Agunscancha (4.470m) - Cume Diablo Mudo (5.370m) -> acampamento Jahuacocha 4.100m
Eram 2 horas da madrugada quando despertamos. Estávamos prontos para o desafio, o Cume do Diablo Mudo, nossa primeira tentativa em alta montanha!
Eu (Vanessa) acordei várias vezes para olhar o relógio durante a noite, estava ansiosa. A nevasca se fez presente parte da noite, mas quando acordamos uma agradável surpresa: lua minguante. O tempo abriu e o céu estava estrelado. Se via os campos e montanhas todos brancos por conta da neve.
Na mochila de ataque levamos apenas o lanche, 2L de água no hidrat, folhas de coca, kit primeiros socorros, chapéu e os óculos que não poderiam faltar. Vestimos calça impermeável, polainas, jaqueta impermeável, camisa dryfit manga longa, fleece e nossos bastões de caminhada. Com as lanternas de cabeça, seguimos rumo ao imponente cume nevado.
Passamos um longo trecho pela ”morena” (parte de pedras onde antigamente havia neve), olhávamos para o céu completamente estrelado. Em alguns momentos podíamos vislumbrar as mágicas estrelas cadentes.
A subida foi dura, alguns trechos de escalaminhada e terreno bem inclinado e irregular, com muitas pedras que nos faziam escorregar. Quando chegamos ao trecho de neve, após mais de 2 horas de subida íngreme, o dia já estava começando a clarear.

A rota por onde passamos não era tão técnica, mas devido ao ar rarefeito e a subida constante e ingrime nos faziam cansar muito, o sol já estava dando as caras e nós ainda estávamos subindo.

Olhávamos para cima e pensávamos algumas vezes ” É ali!” e quando nos aproximávamos ainda havia outra ascensão, a subida parecia era interminável e cada vez mais o caminho ficava difícil.

O frio durante a madrugada marcou -5c°, mas durante a subida tivemos que tirar as jaquetas, tamanho era o calor do corpo durante o esforço do trajeto.
Quando o sol saiu, usar óculos de sol escuros, era obrigatório. A neve branca refletia muito forte nos olhos e sem óculos você não consegue nem mantê-los abertos.

Chegamos emocionados às 8:30 da manhã, alcançando a nossa altitude máxima à 5.370m! No cume ficamos um tempo calados e conseguindo entender o porque do ”Diablo Mudo”, com pouco folêgo, até falar ficava difícil.

Agradecemos ao nosso guia que foi muito mais que um profissional, também um grande amigo que nos levou e que tinha a consciência, de que nós estávamos preparados para esta experiência!

Lá contemplamos a vista dos gigantes de Huayhuash à nossa frente: Yerupaja, Yerupaja Chico, Suila, Sarapo, Carnicero, Yantaruri, Jurau, Trapecio, Puscanturpa e etc.

Tiramos várias fotos impressionados com a paisagem.

Ficamos quase 1 hora no cume admirando. O clima estava ótimo, sem nenhum vento que possibilitou imagens aéreas com o nosso drone.
Lanchamos no cume e contemplamos aquela imensidão. Com certeza um dos dias mais felizes e emocionantes da nossa vida de aventureiros! Foram cerca de 12 horas de uma intensa atividade, não foi fácil!

A vista lá de cima para os nevados próximos era impressionante, principalmente esta face do Jirishanca

Descemos com cuidado, pisando sempre firme na neve, atrás do guia. Ás vezes afundávamos até a coxa. Também deslizávamos, carregando pedras e areia morro a baixo.

Começamos a descer por volta das 9 horas da manhã. Como subimos a noite, quase não nos demos conta da paisagem ao redor, que imensidão!
Lagunas de cor azul esmeralda pareciam surreais naquela paisagem montanhosa

A descida foi por outro caminho. Passamos por um vale e seguimos num longo caminho rumo ao acampamento Jahuacocha (4100 m), que chegamos próximo ao meio dia. Outra surpresa agrádavel, foi o acampamento queachamos realmente muito lindo, para fechar com chave de ouro, esta que seria a última noite em Huayhuash.
Tomamos um delicioso banho de rio e ficamos por ali esperando nossos amigos peruanos que ainda não tinham chegado. Deitamos na barraca para descansar e logo nos chamaram para almoçar. Após o almoço descobrimos que ali havia cerveja para vender. Ótima noticia! Nos juntamos para comprar as cervejas e fizemos ali mesmo a comemoração de encerramento da travessia, contando aos peruanos como foi incrível o desafio do Diablo Mudo.
DIA 9 – A ultima pernada
Domingo, 19 de agosto de 2018 Jahuacocha 4.100m -> Passo pampa Llamac (4.260m) -> Pueblo Llamac ( 3.200m )
Sobre a nossa incrível aventura e que já estava acabando, fizemos amizades muito bacanas. Todos os dias foram intensos e espetaculares, ficaram marcados eternamente em nossas vidas!
Acampamento desmontado e café da montanha tomado. Tiramos esta foto antes de sair para caminhar. Desta vez um pouco mais tarde, achando que o ultimo dia seria curto, o que não foi verdade.

O último Passo de Pampa Llamac (4260m) estava vencido. A partir daí veio uma longa descida, com trilhas estreitas em zig zagues para chegar finalmente a cidade de Llamac (3240m) o ponto final desse circuito,onde retornaríamos de van para Huaraz!

Completamos o desafio de um dos mais belos circuito do Planeta com chave de ouro. Praticamente todos os dias com tempo bom. Encontramos trekkers solos e com agência de várias partes do mundo. Trocamos experiências com os guias e os hermanos do grupo,ouvimos historias, descobrimos uma nova cultura. Vislumbramos paisagens cinematográficas e vivemos momentos da forma mais intensa que conseguimos!
Huayhuash é daqueles lugares que fazem você acreditar que acabou de ver a cena mais fascinante de sua vida – a cada uma ou duas horas mais ou menos.
Foram cerca de 124km de caminhada e mais de 6000m de ascensão acumulada!
FIM!
E a nossa ida em Huayhuash, foi tão maravilhosa que, queremos levar vocês para essa emocionante aventura!
Um reconhecimento aconteceu e uma grande parceria se formou…
FIQUE LIGADO QUE TEM EVENTO PARA HUAYHUASH EM JULHO DE 2019! BORA COM A GENTE?
Mais detalhes: https://www.facebook.com/events/2203501703015999
Entre em contato para mais informações pelo Whatsapp:
(47)988438693 – Vanessa
6 thoughts to “O incrível circuito de Huayhuash”
Que relato incrível! Me senti presente nas suas aventuras!!! Ainda quero realizar este sonho também!!!! Parabéns pela conquista e relato perfeito!
Obrigada Diná! Fico feliz em poder compartilhar essa experiência incrível! Ano que vem estamos com pacote pronto para Huayhhuash! Se tiver interesse entre em contato! 😉
Poderiam mandar as informações sobre o pacote para Huayhuash 2019?
Vocês fizeram o trekking com que agência ?Fecharam lá? Qual o valor e o que estava incluso?
Tenho interesse em fazer este trekking neste ano!
Olá!confira todos os detalhes da expedição 2019 a Huayhuash aqui: https://www.facebook.com/events/2203501703015999/
Ainda dá tempo de participar!
Fizemos o trekking com agencia local, que é muito importante nesta região! Fomos com a Scheler trekking e expediciones.
Olá, sei que já se passaram alguns anos, mais você poderia colocar o valor do trekking. Por que vou fazer no próximo ano entre Abril e Maio. Só para comparar preços.,Abraços
Olá bom dia Renato! Não temos ainda nova data e valores atualizados no momento, mas você pode entrar em contato pelo WhatsApp para te enviar itinerário completo! 47 988438693 – Vanessa.